terça-feira, 17 de junho de 2014

Bacelar

A uma AusênciaSinto-me, sem sentir, todo abrasado 
No rigoroso fogo que me alenta; 
O mal, que me consome, me sustenta; 
O bem, que me entretém, me dá cuidado. 

Ando sem me mover, falo calado; 
O que mais perto vejo, se me ausenta, 
E o que estou sem ver, mais me atormenta; 
Alegro-me de ver-me atormentado. 

Choro no mesmo ponto em que me rio; 
No mor risco me anima á confiança; 
Do que menos se espera estou mais certo. 

Mas se de confiado desconfio, 
É porque, entre os receios da mudança, 
Ando perdido em mim como em deserto. 

António Barbosa Bacelar, in 'Fénix Renascida'